A melancolia dos dias cinzas

A sensação das pernas bambas por um simples encontro do acaso
Como se na noite anterior em que por breves momentos compartilhamos o mesmo espaço não tivesse tido qualquer significado
Mas foi assim, sob a fina garoa, quando os olhos por um curto espaço de tempo se cruzaram e um simples aceno.
O lampejo do desejo adormecido durante meses de silêncio e ausência, florescendo novamente, mais calmo e sereno, contudo longe de ser aquilo que definimos como amor.
Também não é reflexo dos “nervos” a flor da pele, pelo menos não no sentido alucinante causado pela volúpia. Foi algo mais terno e ao menos tempo pulsante.
Um simples instante para despertar algo em mim que andava dormente, algo que não sei explicar o que é, mas que me fez bem.
Ou talvez tenha sido a chuva, o dia cinza, as sombrinhas multicoloridas desfilando pelas ruas e calçadas de um porto-alegre nem sempre feliz.
Adoro dias tom de cinza

A vidraça fechada,
A chuva brincando na janela,
Tento afugentar o sono que vem com o marasmo, inúmeras xícaras de café, vício que há tempos me acompanha e do qual vou desistindo de lutar.
Querendo sair daqui, mas, aff, obrigações não deixam. E o relógio parece conspirar contra meu desejo.
Sem tempo para ficar sob a chuva, então contemplo distante, mais um dia pintado de cinza.

Os vários eus..

Escrito por Fabiana Reinholz

Já fui queimada na fogueira….
Nada mais pode me machucar tanto…
Fui a mais bela das concubinas…das melindrosas a mais fabulosa
A mais terrível e temível guerreira…
A mensageira, nômade errante..
O lado mais doce das faces da lua…
Um anjo, um demônio
A realidade e a mais incrível quimera…
Na dança do ventre, eu fiz flutuar os véus
Num tapete mágico eu fui voar
A fervorosa dançarina espanhola eu já fiz surgir
Todos os destinos em várias mãos eu li…
Como boa cigana as mil caravanas conduzi
Eu sou a clave de sol de todas as canções que a todos faz dançar.
O fogo e a água me possuem…
Deslizo pela terral e pelo ar….
Sou a mentira mais sincera que você pode encontrar
Uma deusa, fada, bruxa, o anjo mais feliz
O principio, o meio sem fim….
Tenho a noite como companhia e o dia como condutor..
Um pouco do riso e tristeza mesclada para não esquecer que tudo é feito de passagem…
A bolha de sabão, as asas da borboleta…
O espelho e os cacos
Sou a constante invenção de mim
Um reservatório de infinitas possibilidades..
Que abita no labirinto sem fim…

Reencontrei minha espada, meu punhal e minha capa
Logo, logo terei de volta meu OM e minha flor de lótus
Agora estou pronta para voltar para casa…

Um dia eu volto…
Ou deixo outra de mim voltar…